Conversa entre ninguém e nada
Quarta-feira, algum dia de agosto de dois mil e alguma coisa. Quatro funcionárias da limpeza de uma escola se encontram no refeitório, já que seu horário de entrada é às nove e meia. O relógio marca nove e quinze, e todas as quatro, sempre adiantadas, já estão presentes. Edileuza, a mais antiga, já está na empresa há sete anos. É uma senhora de sessenta e oito anos, e ninguém sabe ao certo se já está na idade de se aposentar ou não, considerando as constantes reformas na previdência. Há também a Lúcia (dois anos de empresa, a mais jovem de todas), Carla (recém-chegada, uma mulher madura e bonita) e Ângela, que mal consegue se manter em pé.
O relógio marca nove e dezesseis. Lúcia comenta:
— Ah, que calorão fez no último domingo — disse ela, enquanto mexia em suas redes sociais. Depois disso, não disse mais nada, tomou seu chá e olhou para o sol, que brilhava fortemente naquela manhã.
Minutos depois, antes das nove e dezenove, Edileuza comenta:
— Ah! — exclamou. — Tenho que ir ao médico. — Mais uma vez, ninguém esboçou qualquer reação. Foi cômico observar a interação das quatro funcionárias, e a partir daquele momento, percebi que nenhuma delas iniciaria uma conversa de verdade e que seriam longos doze minutos. Carla e Ângela trocaram olhares, mas não disseram uma palavra sequer. Edileuza, em seguida, perguntou para mim como estava a rotina no trabalho. Tirei os fones de ouvido e respondi prontamente que estava tudo como de costume, sem novidades, mas que eu estava ansioso para chegar em casa e descansar. Minha resposta não gerou desdobramentos, já que nenhuma das moças parecia interessada no que eu acabara de dizer ou no que eu faria em casa. O tempo parecia arrastar-se, e a superficialidade pairava no refeitório.
Lúcia então falou sobre o filme que assistiria naquela noite. Disse que o título era "Doze horas que não terminam", um relançamento de um filme popular dos anos cinquenta. Quando percebeu que ninguém reagiu, calou-se e voltou a sentar-se. Notei que apenas eu e Lúcia percebíamos que havia pessoas ali para conversar, mas não havia, de fato, conversa.
Ainda faltavam cinco minutos. Já ouvi de Edileuza sobre a cirurgia da prima, o que despertou um certo interesse em Carla, que respondeu apenas com expressões faciais, levantando e franzindo as sobrancelhas. Lúcia falou sobre o marido, que estava cada vez menos presente nos momentos em que ela precisava. Outras coisas foram ditas, mas Ângela permaneceu calada, deixando o volume alto de seu celular falar por ela. Eu conseguia ouvir tudo o que ela assistia enquanto estava concentrada na tela.
Não é uma quarta-feira incomum. Essa cena se repete todas as semanas, sempre no mesmo horário, e acredito que elas estejam tão habituadas à superficialidade que nem notaram que já devem fazer anos que não têm um diálogo de verdade.
— Vamos! Nove e meia! — disse Edileuza com entusiasmo. Foi um alívio geral. Ângela acenou um "tchau" para mim, Lúcia saiu sem dizer nada, e Carla correu como se estivesse atrasada. — Vamos, porque para pagar as contas, ainda temos que ser exploradas. É um longo dia! — concluiu Edileuza, encerrando a conversa de ninguém sobre nada.
E assim, todas fecharam a porta, deixando-me em silêncio com o computador. Sempre as observo com meus fones nos ouvidos. Acho cômico o ser humano.
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