Pensamentos



Numa escura segunda-feira de julho, fria como um cubo de gelo que há dias habitava o fundo de um refrigerador, havia uma mulher cuja expressão mantinha-se tranquila e vazia. Esvaziara tudo o que tinha na cabeça porque, daquele dia cheio e turbulento, atordoada estava. Precisava recarregar as energias e limar os pensamentos para os próximos dias.


Suas lembranças voltavam toda vez que fazia aquele mesmo trajeto monótono, mas de que tanto gostava. Ao se sentar na areia e observar os prédios que, de longe, brilhavam com a luz das lâmpadas, sorria e sentia-se acolhida pelos braços de Marcos, seu primeiro e único amor, quem um filho lhe deu e um filho lhe tirou. Mesmo que guardasse com rancor algumas memórias, o toque de Marcos era algo que a deixava reconfortada, pois nunca outro homem a tocaria de novo. Não por opção, mas pela apreensão que sentia ao se aproximar de um.


Dava risadas leves toda vez que a onda do mar chegava a seus pés. A temperatura da água não contrastava com a temperatura do ar, e a combinação a fazia arrepiar, assim como se sentia ao ver Yago, parceiro de trabalho. 


Mas sua feição rapidamente voltava ao normal assim que se lembrava de que, ao voltar para casa, não veria ninguém dormindo na cama ou deitado no chão, a convidando para brincar. Estava tão sozinha em casa quanto na praia naquela fatídica noite, mas numa solidão pior e não intencional, que fazia suas emoções doerem como uma agulha que perfurava o seu coração.



Fechou os olhos, levantou-se e voltou para casa, para mais uma semana.

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

CIRANDA, CIRANDINHA...

Amanhã, ela viverá tudo de novo

Conversa entre ninguém e nada