Por que eu sou eu mesmo?

Há muito tempo, quando eu tinha só meus dezoito anos, eu entrei num embate entre mim e eu mesmo. Posso considerar que são duas pessoas diferentes, porque o mim falava que eu tinha que fazer tal coisa, tal coisa e tal coisa. O eu, não. Já era mais coração, ele falava que eu tinha que seguir a minha intuição e mostrar quem de fato sou.


Você lendo essa história, sabe bem qual é o lado que eu devo escolher. Mas, para mim, não era tão claro assim.

Eu sempre fui um cara muito estranho. Eu gosto de tudo o que é diferente. Eu tenho, por exemplo, um estojo no formato de peixe. Já tive caixinha de som no formato de leão, gosto de música alternativa, gosto de tudo o que não é tradicional. Pensa no seguinte: se eu só tenho uma vida, por que que eu tenho que ter uma vida igual a de todo mundo?

Só por esse fato, só por eu ter falado isso, você já deve saber o lado que eu escolhi. Só que até chegar lá, foi todo um processo, não foi nada decidido de um dia pro outro.

A começar pelo estilo das roupas, por exemplo. Quando você é você mesmo, você mostra quem você é pela sua personalidade, pelos teus hábitos, pelos teus hobbies, pelo que você gosta de fazer. Quando eu tinha 14 anos, passei por algumas coisas, que me fizeram perceber o que eu realmente gostava de fazer como hobby. Era aprender linguas e escrever. Eu tinha só catorze anos, e tinha cravado o que eu queria fazer pro resto da minha vida - sete anos depois, eu ainda faço isso. Amo escrever de paixão, amo aprender outros idiomas, acho que me sinto renovado toda vez que faço isso. Quero ser ator quando crescer, quem sabe. E é engraçado, porque quando você está triste, você mostra tristeza. Você exala tristeza. Eu exalava. Nesta época, de adolescente revoltado, eu só vestia preto ou roupas escuras. Mas não era proposital. Eu acabava sendo induzido pela minha mente a comprar somente coisas deste tom. Eu só fui reparar isso anos depois, quando olhei o guarda-roupa. Numa fase de euforia, querendo mudar de vida, nascimento da minha irmã, primeiro emprego, e tudo mais, eu fui me tornando novamente um garoto mais alegre.

Meu estilo de roupa mudou, comecei a usar roupas mais floridas, mais enérgicas, mais estampadas, e tudo mais. Meu irmão falava para mim que eu não tinha estilo próprio, mas ele estava e está errado, pois a forma que eu me vestia e me portava, era literalmente meu estilo próprio.




E além disso, as pessoas percebiam o quão diferente eu estava. Eles me diziam que eu parecia mais bonito, mais jovem, menos cara de velho, sabe? é tuuuuudo reflexo! tudo isso faz parte. Quando nossa alma fica bem, o corpo fica também.

Parecia que tudo estava resolvido, parecia que tudo estava bem. Mas aí, depois de mais uns dois ou três anos, eu comecei a receber muuuuita influência de fora. A internet me influenciava demais, principalmente no estilo. Sabe aqueles canais de pessoas que mostram dicas de rotina, de vestimenta, aquelas trends do pessoal se vestindo e mostrando as roupas e tudo mais? Comecei a me questionar se eu não estava 'brega'. Se eu precisava de um estilo de verdade... Aí comecei a experimentar. Comecei a fazer combinações no estilo do Pinterest, do Tiktok, do instagram, me inspirando em outros caras. Eu me sentia muito bonito, isso de fato era o que importava. Mas daí, comecei a buscar outro tipo de inspirações: casas diferentes (vendo o que dava certo, o que dava errado), celulares diferentes, coisas que eu não tenho e queria ter. Eu estava criando uma realidade na cabeça, tentando enfiar um padrão em mim que na verdade não é possível de existir - não neste momento. Criei uma mania de limpeza terrível, eu via aquelas casas limpas e organizadas da internet e queria fazer com que a minha fosse igual, kkkkkkk, e eu irritava meus irmãos e meus pais nisso aí, porque eu sempre dava sermão neles dizendo que a casa precisa ficar limpa.

Ainda bem que pouco tempo depois comecei a me questionar algumas coisas. Eu via que o que eu estava fazendo era errado, eu sentia isso. Até porque, eu estava saindo estressado sem necessidade, por coisas que antes eu não me frustrava. Procurava peças de roupa que antes eu não procurava, queria itens da moda que eu na verdade usava poucas vezes.

Foi quando entendi que uma casa sem bagunça é uma casa em que ninguém mora.
Foi quando entendi que, realmente, o meu estilo é o meu estilo.
Foi quando relembrei que todo mundo exerce influência sobre o outro, mas precisamos moderar este nível de influência.
Fechei as portas da minha mente e comecei a olhar para dentro de mim. Entender o que acontecia comigo e tentar buscar novamente o meu pequeno eu perdido no meio de uma grande avalanche de sentimentos, emoções e pensamentos. E me encontrei lá. Me encontrei de novo. Eu sempre estive ali, na verdade. Foi a minha mente quem tentou escondê-lo.

E quando se percebe que só se vive uma vez, a gente tenta viver da melhor forma possível. Por isso, não me importo mais com esses pequenos detalhes. Eu sou apenas eu. E quem quiser falar alguma coisa sobre a minha personalidade ou sobre quem sou, pode falar. Na vida real também temos o botão deixar de seguir.

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