Malditos lusófonos

 

22h30 da noite. "Música de fundo, luzes apagadas. Carro estacionado. É tudo o que consigo ver e ouvir neste momento de paz e tranquilidade. Dona Lúcia já parou de me telefonar, perguntando onde deixei as coisas que, segundo ela, lhe pertenciam. Susana já não me incomoda mais com aquelas tarefas horríveis e desumanas que costuma pedir e nunca faz por conta própria. Eu só escuto a música favorita do meu pai no rádio do carro, no meio do escuro da avenida Antenor, que já está há duas semanas com as luzes queimadas, mas que, segundo o prefeito, tudo será arrumado logo logo. Estou cansado desta sociedade que me trata como escória, viver no meio deste lixão ambulante que se chama "mundo", com outras pessoas que acreditam que isso um dia irá melhorar. Imagine só: todas as pessoas que vieram antes de você, seus bisavós, trisavós e todo o resto, também pensavam que trabalhando iriam conseguir uma vida mais digna para seus descendentes e para as pessoas que viriam depois. Aqui estamos, trinta, cinquenta ou até setenta e cinco anos depois, reclamando dos mesmos problemas da época de Dom Pedro, e assim deve seguir pelas próximas décadas. Minha vontade era de estar agora numa ilha paradisíaca, comendo tudo o que há de bom, sem estresse, apenas sol ou lua, tomando banho de mar e vivendo a natureza na natureza. Malditos lusófonos!" O alarme toca. 6h45 da manhã. É segunda-feira.

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