Fazer merda na vida é essencial

 



O texto de hoje é curtinho, mas acho ele essencial para quem está lendo o que escrevo. Muita gente que eu conheço conta para mim que se arrepende de váris coisas feitas — tanto na infância quanto na adolescência, sempre há algo que a pessoa se arrepende de ter feito para todo o sempre. Lembro de na minha adolescência ter cometido um erro terrível de rebeldia, mesmo sendo o garoto educado e recatado do lar. Participei, em 2018, de uma instituição que pegava jovens carentes (eu estava incluso) para inserção no mercado de trabalho. Entrei em fevereiro daquele ano, e lembro do terror — tinha que me transferir para o período noturno da escola, ficava quase um período integral na instituição que chamarei de "EMPREGO E CIA" (ou ECIA), tinha que quase raspar o cabelo (era regimento da ECIA que meninos tivessem cabelo na 0, 1 ou no máximo 3, e isso para mim já era ser careca), além de serem educadinhos e darem lugar para os mais velhos no ônibus (não obstante, tínhamos que andar com crachás para lá e para cá, identificando o nosso nome e o número de identificação para a ECIA). 

Muita gente rodava aí, porque eram pegos namorando em volta da instituição (e pelo número de cada um, era fácil de denunciar para a ECIA). Eu não beijava, não fazia besteira e nem mexia com paradas erradas (o máximo que eu fazia era fingir sono para não dar lugar no ônibus), mas isso não causava problema nenhum. 

Mas tinha uma coisa que eu era muuuito bom. Muuuito bom mesmo. Os meus colegas do noturno adoravam as minhas imitações: eu sabia imitar cada professor, desde o trejeito até a voz, e imitava-os como se estivesse num show de Zorra Total, incluindo seus bordões mais repetitivos. Numa dessas, fui flagrado (mas também fui burro, porque fui imitar um professor bem na rede social azul do Mark Zuckeberg), e denunciado para a ECIA. Não deu nem um dia, fui desligado do programa, uma semana antes de sermos encaminhados para as primeiras empresas. Fiquei só de fevereiro a junho lá, num curso que nos preparava, das 8h às 14h, para o mercado. Fiquei com raiva de mim por ter feito besteira, e da instituição, por não ter senso de humor.

Depois disso comecei a me observar mais e repelir certos comportamentos, nunca perdi meu lado engraçadinho, confesso que adoro tirar graça de situações do dia a dia ou fazer coisas diferentes do esperado (porque já estou cansado de rotinas. Já basta sempre ter sido a terça depois da segunda, e o fim de semana só ter dois dias. Por que não mudar um pouco, e na semana seguinte fingirmos que a segunda não existe? E que quarta é no lugar de sexta? E que sábado dure 48h? E que a noite de domingo seja sucedida pela manhã de sábado?) só para diversão própria. 

Nunca achei que fosse me tornar professor. Hoje, dando aulas, sei que os alunos fazem muitas e poucas. Falo para eles que já fui adolescente, e que já fiz muitas besteiras (lembro de quando zerei uma prova porque passei resposta da prova para todo mundo no grupo do WhatsApp e o pessoal veio todo solidário comigo). Ralei muito para conseguir o primeiro emprego depois disso, fui rejeitado em várias empresas por não bater com o perfil deles (graças a DEUS!!!), e consegui uma vaga numa instituição para autodidatas aqui da cidade. Lá, no método japonês, ensinavam matemática, português, e olha: INGLÊS! Justamente a matéria que eu tinha aprendido sozinho, antes mesmo de entrar na ECIA.

Depois daí, senti que queria realmente a profissão. Trabalhei lá de 2019 a 2022, e iniciei a faculdade de Letras em 2021. 

Estou ansioso pelo que vem por aí. 


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