O silêncio na poltrona verde
Impregnado estava o cheiro de morte naquele escuro quarto, numa chuvosa noite de um triste domingo. Dois homens que se diziam amigos estavam no mesmo cômodo esperando por um momento de triunfo — a passagem de um plano para o outro de maneira bastante incômoda, mas rápida, simbólica e cinematográfica. A baixa luminosidade era um detalhe requerido por Hugo, que tinha Cássio deitado numa grande cama preparada, com um aspecto que lembra muito mais o estilo visual dos móveis da era Vitoriana. O ambiente exalava o sentimento de raiva incumbida, de um desgosto que a língua faria questão de cuspir, e que o cérebro havia tentado em vão esquecer. Hugo estava com o corpo e a mente de Cássio, que já tinha entregado todos os pontos desde que o "amigo" o trancara no quarto escuro. Sabendo que aqueles provavelmente eram seus últimos momentos, o último passou a observar os móveis que guardava dentro do seu cômodo de descanso: uma mesa avaliada em mais de dois mil reais, que com delicadeza ...